Apesar da quase nulidade de arquivos ou estudos bíblicos acerca da figura do negro como participante na História Sagrada, algumas linhas de estudo apontam para uma revelação no mínimo curiosa: Sulamita, a predileta do coração de Salomão e inspiradora dos poemas de amor do livro de Cantares, provavelmente foi uma bela negra. De acordo com alguns estudiosos dos textos sagrados, as filhas de Jerusalém protestaram quando descobriram que o maior poema de amor de todos os tempos havia sido dedicado a uma negra. Essa teria, então, respondido à atitude preconceituosa através do próprio poema: "Eu estou morena e formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão" (Cantares 1.5).
Salvo algumas controvérsias a respeito da tradução desta passagem, o texto traduzido para o inglês, segundo alguns intérpretes, no entanto, não deixaria dúvida: "I am black but comely", diz o texto, que traduzido significa: "Eu sou negra, mas agradável".
Bíblia, um livro branco?
Para o pastor e presidente da Academia Evangélica de Letras do Brasil (AELB), Amaury de Souza Jardim, , os textos dos Cantares de Salomão não indicam com certeza que Sulamita fosse uma negra:
Os textos falam de "morena", queimada de sol". Existe uma boa possibilidade, mas não podemos afirmar - disse.
O pastor e teólogo Claudionor Corrêa considera, entretanto, o texto em inglês como suficiente para uma conclusão:
Apesar da infelicidade da partícula adversativa (referindo-se ao mas aplicado ao texto), essa tradução parece estar mais de acordo com o original hebraico - afirmou em um artigo sobre o assunto.
De acordo com o pastor, a Bíblia foi vista como um livro exclusivamente branco e interpretado através do filtro colonialista pelas nações européias, com exceção dos missionários que corriam o mundo propagando a Palavra de Deus. "Jamais nos esqueçamos de que a Bíblia começou a ser escrita na África", lembrou.
É bem verdade. O livro de Gênesis, que fala da história da criação e da queda do homem — também conhecido como o Índice das Nações — faz referência a pelo menos três grandes nações africanas: Cuxe, Mizraim e Pute, que hoje são Etiópia, Egito e Líbia.
África separada
Até a construção do Canal de Suez, conta a história, não se fazia distinção entre as terras bíblicas. E o cenário da atuação divina ia do Nilo ao Eufrates. Para o faraó, a península do Sinal ainda era Egito, e este nunca deixou de ser África, de qual continente também fazia parte Israel. Com a construção do Canal de Suez, em 1859, a África foi separada do que hoje é conhecido como Oriente Médio, com reflexos dessa separação na cultura e na história da nação africana.
Para o pastor Claudionor, Israel é uma nação tão africana quanto semita, e a mensagem que esta leva ao mundo teve seu início no continente negro. No entanto, segundo o pastor, é necessário que sejam derrubados alguns mitos acerca de certas passagens bíblicas, que dão margem a interpretações equivocadas.
Já disseram que a cor negra é o sinal que o Senhor colocara em Caim por haver este matado Abel, seu irmão, em Gênesis 4.15, ou que o negro surgiu por causa da maldição imposta pelo patriarca sobre a irreverência de Caim, em Gênesis 9.25. São teses falhas, dúbias e perniciosas. De acordo com a concepção hebraico-cristã, não há nenhuma maldição em ser negro, nem bênção em ser branco — rechaçou.
Esposa negra de Moisés
A Bíblia descreve a atuação de negros em outras passagens e livros. Quando Jeremias, por causa de uma profecia, foi lançado no calabouço de Malquias, foi um etíope chamado Ebede-Meleque, que intercedeu por ele junto ao rei Zedequias. Apesar de parecer revestido de discriminação por conta da raça, o episódio que envolveu Moisés e uma mulher cuxita (etíope) também registra a história do negro nas Escrituras Sagradas, mas segundo os teólogos, o preconceito foi mais em função do politeísmo da cuxita (culto a vários deuses) do que propriamente por causa da origem racial da esposa do profeta.
No capítulo 12 do livro de Números, Miriã e Arão, falaram contra Moisés "por causa da mulher cuxita que tomara". Mas a crítica foi em função da permissividade de Moisés com relação à religião da mulher cuxíta, ou seja, por esta não ter origem judaica — afirmou o pastor Amaury Jardim.
Apesar de muitos africanos ainda verem a Igreja como de origem européia, uma análise mais atenta sobre a História Sagrada vai demonstrar que a Igreja do Senhor Jesus sempre foi tão multirracial quanto hoje, porque a Bíblia, efetivamente, começou a ser escrita na África.
O verdadeiro descendente de Abraão não é branco nem negro, pois no céu não vai existir pigmentação. Na verdade, a Bíblia afirma que o renascido em Cristo será mesmo resplandecente. "Então, os justos resplandecerão como o sol no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos (para ouvir), ouça" (Mateus 13.43).
(Texto Transcrito de Silvia Gadelha - Folha Universal)
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Afroabraços,
Henrique Coutinho.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
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