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Afroabraços,

Henrique Coutinho.



quarta-feira, 11 de agosto de 2010

QUEM LUCRA COM A IMAGEM POSITIVA DA ÁFRICA?

AUTOR: Vladislav MARJANOVIĆ
Traduzido por Fernando Esteves, revisado por Omar L. de Barros Filho.

UMA PREOCUPAÇÃO DA DIÁSPORA AFRICANA.

O que a grande mídia nos diz sobre a África? Só alguns parcos relatos sobre guerra, crise, doença e fome. Porem essa imagem é substituída por uma ainda pior: a dos imigrantes. Chegam todos os dias em embarcações precárias . Muitos deles, morrem no caminho , enquanto os outros vão romper as barreiras da Europa, e já são vistos em quase todo o pais. É preocupante . Eles tomam os empregos dos nativos , traficam, se prostituem e ameaçam os bons costumes . Teme-se que a Europa sofra uma africanização e com isso um possível declínio do continente europeu , já que supostamente os imigrantes trazem consigo a barbárie e a anarquia.

Evidentemente as comunidades africanas no Ocidente querem corrigir essa impressão negativa que ficou do povo africano e seu continente. Para tanto, eles se organizaram e já possuem seus próprios meios de comunicação e se esforçam para, através desses meios, explicar ao publico ocidental que existe uma outra África , uma África criativa e com homens bem-sucedidos , que venceram em diferentes áreas , o que lhes assegura reconhecimento internacional. Alem disso, defendem que o numero de guerras na África diminuiu consideravelmente, que o processo de paz esta caminhando, a democracia vem se estabilizando e a imprensa esta cada vez mais livre . Eles defendem que suas conquistas devem ser salientadas quando se fala da África. As outras questões, que enfraquecem essa imagem positiva da África , devem ser vistas como problemas internos, que são resolvidos internamente , assim como roupa suja se lava em casa.

Essa ‘’filosofia midiática’’ não é nova. Nos paises comunistas, era a regra .Desde a infância, aprendia-se a passar , aos estrangeiros, uma imagem positiva do próprio pais e de seu sistema político. Não é difícil, a própria mídia atual já dá as diretrizes básicas para tanto.

Na época dos estado comunistas via-se exclusivamente a ‘’imagem positiva’’.
Discursos sobre o sucesso dos planos qüinqüenais , a glorificação do trabalho e dos trabalhadores, a recompensa para os representantes da ‘’intelligentsia honesta’’(ou seja, representantes fieis do partido), noticias sobre os avanços desta ou daquela fazenda coletiva, um pouco de esporte e só.

Na sociedade comunista não havia conflito, dizia a mídia, e se por acaso houvesse, era só uma eventualidade. Dores do parto da nova sociedade , era a explicação oficial. A aparência é muito importante.

A IMAGEM POSITIVA DA ÁFRICA E A ECONOMIA MUNDIAL.

A diáspora não esta sozinha no seu esforço de mostrar a África positiva. Para mudar a imagem negativa da África no Ocidente, a Conferencia preparatória regional-africana da cúpula mundia da sociedade da informação( 25 a 30 de maio de 2002 em Bamako, capital do Mali), a UNESCO , a tv5 da França e a RADIO FRANCE INTERNATIONALE, resolveram trabalhar juntas.

Qual o motivo? A ética profissional? Poderíamos quase acreditar . Porem, dia 13 de abril de 2005, 11 chefes de estado africanos , reunidos na universidade de Boston , numa mesa redonda com presidentes africanos , publicaram uma declaração consensual que, resumindo, é a seguinte: a África é um elemento-chave da economia mundial. Com isso, dirigiram um apelo à mídia americana para que façam declarações justas e ponderadas sobre o continente africano. Da mesma forma, os estados africanos e instituições como a União africana lançaram um apelo a favor de estratégias que oponham imagens positivas às representações negativas da mídia africana. Por fim , recomendou-se que às ONGS americanas ‘’estabelecer novos paradigmas afim de educar os jornalistas ocidentais e africanos, levando em conta as democracias africanas que buscam seu desenvolvimento. Pediu-se também que não engrossem os comentários céticos e críticos e cuidar para que o potencial do continente e seu progresso sejam postos em evidencia.

No dia 22 de maio de 2005, durante o 54. congresso do instituto internacional de imprensa em Nairobi, o presidente de Rwanda , Paul Kagame, declarou que ‘’reportagens negativas impedem investimentos estrangeiros diretos na Africa’’. Essa declaração é muito esclarecedora. Por trás do engajamento no sentido de apresentar uma imagem positiva da África ,há interesses puramente econômicos .Na conferencia de uma importante instituição internacional , que é o cão de guarda da liberdade de imprensa , eis a declaração que se ouve de um chefe de estado , cujo pais não tem uma imprensa totalmente livre. O tempora, o mores!
Mas não é tudo.

Por conta da imagem negativa da África , disseminada por jornalistas africanos, estes foram tratados como inimigos internos do continente africano por alguns participantes da conferencia sobre a mídia na África , realizada em Nairobi em agosto de 2006. O fato é que esses jornalistas , não encontraram nada de positivo para falar do governo de seus paises!

Para mudar essa situação , foi sugerido um programa de formação para jornalistas orientado pelos institutos americanos POINTER e AMERICAN INSTITUTE.

A União africana acabou por tomar parte na luta contra a imagem negativa da África disseminada na opinião pública. Não sozinha, mas com a união européia. Ao termino do fórum ‘’midias e desenvolvimento’’( 11 a 13 de setembro desse ano em Quagadougou, capital de Burkina Fasso , foi fundado um observatório panafricano de mídia que deve reunir as principais personalidades reconhecidas, sobretudo, por sua imparcialidade. Alem disso, os estados africanos e europeus exigiram a criação de uma estrutura institucional afim de garantir a independência, a liberdade de expressão e os direitos da mídia, bem como os deveres. A imprensa deve lutar contra os estereótipos e não alterar o sentido dos documentos e textos que ela publica e abster-se de toda forma de apoio à violência sectária. Foi prevista a criação de uma Carta dos direito e deveres das mídias africanas e européias.

NÃO ASSUSTAR OS INVESTIDORES

Percebe-se, nas mais importantes instituições internacionais, uma aceitação e valorização crescentes da ‘’imagem positiva’’ da África. Jean Ping , presidente da comissão da união africana , explica exigência dizendo que a imagem negativa da África , espanta os possíveis investidores .Essa preocupação parece ser o argumento dominante. Em 2001, o então ministro britânico, Tony Blair, apontava para os efeitos prejudiciais sobre o turismo das reportagens negativas sobre a doença da ‘’vaca louca’’na Grã-Bretanha.. Em 25 de janeiro de 2005 , Amevi Atiopu, diretor para os mercados emergentes da Pazisma Corporation, escreveu:’’ para aumentar a confiança dos investidores e atrair o capital estrangeiro, os estados africanos devem criar meios para que possam lutar energicamente contra a imagem negativa da África ‘’.

‘’ Uma mudança da imagem africana poderia promover investimentos e o crescimento econômico como nunca antes vistos, afirmou Patrícia R. Francis , diretora do centro internacional do comercio , na revista ‘’fórum do comercio internacional’’( nr.1/2007), que faz parte da OMC e da ONU.

É ‘’chocante’’ que os patrocinadores do alto-escalão da representação positiva da África, se preocupem,antes de tudo, com a economia , os investimentos e o crescimento econômico . Com isso chegamos a uma tal situação que fez pensar até o diretor do departamento de desenvolvimento da comissão européia , Bernard Petit.

Num artigo para The Courier.the magazine of ACP and EU cooperation, publicado em 28 de agosto de 2008 , Bernard Petit, se pergunta se a África realmente precisa de uma nova regulamentação midiatica ou se a liberdade de imprensa deve ser considerada como sinal de bom governo e como se deve lutar contra a censura. Baseado nesse pensamento, Bernard Petit conclui que a necessidade de atrair investidores para aumentar a independência da mídia e sua qualidade apresenta um risco de desvio. Segundo ele, a mídia poderia ser corrompida sob os cuidados dos investidores , cuja prioridade é o lucro.Com isso , a qualidade da informação poderia ser prejudicada, tornando-se espetáculo , decaindo para o jornalismo sensacionalista.

IDEALISTAS OU COLABORACIONISTAS?

Será que os idealistas da diáspora já pensaram no assunto? Pensaram que
as instituições internacionais , chefes de estado, que destituíram a democracia de seu sentido,em nome do mercado, servindo com a devoção mais subalterna aos donos do mundo , bem como acadêmicos ‘’eminentes’’pagos por multinacionais e pelo establishment político para legitimar seus interesses em relação a uma imagem positiva da África, mascaram sua própria imagem?

Cada imagem negativa- ou seja, critica- dos fatos na África ameaça trazer à tona as maquinações naquele continente. Portanto, o engajamento na criação de uma imagem positiva não diz respeito a melhoria da qualidade de informação, mas à necessidade de uma propaganda política. Exagerar as conquistas africanas num plano ‘’micro’’ , poderia servir de justificativa para as medidas impostas pela comunidade internacional, já no plano ‘’macro’’, elas se revelam desastrosas. Isso porque essa mesma comunidade internacional quer controlar a informação na África. A proposta para novas dietrizes midiaticas, estabelecendo deveres dos jornalistas , assim como 106 bolsas que a união africana pretende oferecer aos jovens jornalistas para torná-los verdadeiros ‘’profissionais’’, ou, em outras palavras, torná-los propagandistas. Daí a uma censura declarada e consentida a nível internacional é um passo. Infelizmente , isso tudo esta sendo feito em nome da liberdade de imprensa.

Também é de se temer o fato de que os idealistas da diáspora africana não se deram conta de que estão sendo usados e sendo facilmente manipulados como empregados das instituições que promovem a mundialização. Delegando-lhes algumas funções subalternas em qualquer instituição nacional ou internacional , esmola concedida à suas organizações , ou homenageando-os na mídia oficial. Tudo isso será suficiente para dar inicio às colaborações , precisamente com os poderosos que impedem o desenvolvimento da África. Mas a esmola e a homenagem virão juntos com a vergonha que cobrirá, cedo ou tarde, todos os beneficiários. É possível que os membros da diáspora africana no Ocidente se oponham. Informar sobre a África não é uma questão de imagens , mas de problemas que se agravam, e são insolúveis dentro da atual ordem mundial. É isso que deve ser dito. E encorajar a opinião publica a se engajar em favor de uma ordem social mais justa e de uma sociedade mais humana . A diáspora terá a força e a coragem para tanto?

Fonte: Wem nützt das „positive Bild“ Afrikas?

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